SESSÕES DE COMUNICAÇÃO


SALA FERNANDO PESSOA

A VIDA URBANA NA POÉTICA DE ÁLVARO DE CAMPOS

Lorena Brito de Oliveira
Universidade do Estado da Bahia - UNEB


Álvaro de Campos é dos mais expressivos heterônimos de Fernando Pessoa, visto que apresenta uma característica singular em sua poesia: seus versos assemelham-se à prosa. Outra particularidade que Campos apresenta em sua lírica é a forma como expõe o espaço em seus versos, seja ele urbano ou marítimo. O enfoque deste trabalho consiste em ressaltar o significado dos espaços de modo a perceber a relação como a cidade aparece em Álvaro de Campos, delineando as imagens urbanas e a maneira como exprime em seus poemas o eu poético do homem da civilização. Para isso, serão analisados os seguintes poemas: “Ode Marítima”, “Ode Triunfal”, “Tabacaria”, “Lisbon Revisted (1923)”, “Saudação a W. Whitman” e “Notas em Tavira”. Nesses versos, serão ponderados a maneira como o poeta trata os espaços marítimos e urbanos. Portanto, a base teórica usada será: José Augusto Seabra trazendo Fernando pessoa ou Poetodrama (1988); Leyla Perrone Moisés, referindo o desdobramento do poeta em vários eus em, Aquém do eu, além do outro (1982), Adriano Eysen Rego em:  A lírica da ausência na poética de Álvaro de Campos e Mário de Sá-Carneiro (2014) e Gaston Bachelard em: A poética do espaço (2005) e Robert Bréchon, Fernando Pessoa, Estranho Estrangeiro: Uma biografia (1998), relatando a obra e vida do poeta português. Dessa forma, busca-se encontrar em sua produção poética um ambiente que está relacionado não apenas para o desenrolar da ação, mas também, como tema principal de sua lírica.

Palvras-Chave: Àlvaro de Campos. Fernando Pessoa. Imagens Urbanas. Espaço Urbano.


'OUTRA VEZ TE REVEJO': AS MARCAS DA MODERNIDADE E VOZES DISSONANTES EM LISBON REVISITED, DE ÁLVARO DE CAMPOS

Isaura dos Santos Souza
Juliana Rodrigues Salles
Erick Naldimardos Santos
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS

Sabe-se que a humanidade desde os tempos pré-históricos tem vivenciado intensos processos de transformações num ir e vir de construções, desconstruções e reconstruções que se desenrolam e vão delineando as sociedades e o seu tempo. Mas, sem evocar um tom presunçoso, o fim do século XIX e transcorrer do século XX vivenciou um intenso processo de instabilidades, rupturas e transformações, que delineou/delineia a ideia de modernidade. São várias as fontes que motivam esse ‘turbilhão’ da vida moderna, influenciado pelo mercado capitalista mundial, drasticamente flutuante e em intenso processo de expansão, num “perpétuo processo de vir-a-ser”, podendo ser assim chamado de ‘modernização’, que se expande por todo o mundo. Diante dessa nova paisagem e sentimentos, “a moderna humanidade” se vê em meio a uma enorme ausência e vazio de valores, mas, ao mesmo tempo, em meio a uma desconcertante abundância de possibilidades. Fernando Pessoa é um dos muitos poetas, frente à modernidade, que representa o entusiasmo e admiração pelos grandes meios, as grandes cidades, pelo progresso e pela modernização, ao mesmo tempo em que estabelecia certa oposição a algumas das mais explícitas proclamações do mundo moderno. A presente comunicação busca tecer diálogos entre alguns textos de reflexões críticas sobre a modernidade, circunscrevendo a referências histórica-contextuais de Portugal e sobre o poeta Fernando Pessoa, para, na fronteira porosa entre a história e literatura, captar as marcas da modernidade apresentadas no interior das poesias de Lisbon Revisited (1923 e 1926), do heterônimo Álvaro de Campos. Estes poemas selecionados contam com um eu-lírico que cristaliza o homem moderno, marcado pelas consequências e mudanças impressas no século XX, desapontado com as engrenagens alcançadas pelo período que não corresponde de modo positivo suas expectativas. Nítido exemplo de caminho da indagação e inquietude enveredada em certos poemas de Fernando Pessoa, utilizando-se da máscara de Álvaro de Campos, que representa uma mente privilegiada a qual problematiza a relação que existe entre as instituições de um mundo de absolutos e a realidade relativa.

Palavras-chave: HistóriaLliteratura. Modernidade. Poesia portuguesa. Fernando Pessoa.



O CORPO GROTESCO EM ODE TRIUNFAL
UMA FACE DA CRÍTICA SOCIAL DE CAMPOS

Tércia Costa Valverde
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS

Sabemos que o futurista Álvaro de Campos expôs à sociedade portuguesa as inquietações humanas, por vezes, encobertas pelos demais heterônimos e, até mesmo, pelo próprio Fernando Pessoa. Em “Ode Triunfal” (1914), Campos nos convida a uma leitura crítica dos novos valores mecanicistas, no início do século XX, no Ocidente. Nesse contexto, se o valor da vida está atrelado à máquina, o homem engenha-se. Reifica-se. Torna-se, grotescamente, objeto. Difícil situação para o artista, que não aceita a triste realidade pragmática que começa a crescer diante dos seus olhos. O que fazer então perante a ameaça dos “maquinismos e afazeres úteis“? Reler o mundo com os olhos grotescos, talvez, seja uma forma de enxergá-lo melhor. Mas, como perceber o grotesco como ferramenta de desconstrução social, em “Ode Triunfal”? Tentaremos demonstrar que o ser humano é posto em xeque, carnavalizado e seriamente criticado, no referido poema, sendo ainda por Campos evidenciada a face excêntrica de seu corpo (ao fundir-se à máquina), como uma maneira de se criticar a sociedade ocidental, que ainda hoje, valoriza o consumo e os bens materiais. Tomaremos como base teórica as ideias de Kayser, Eco, Foucault, Le Breton, Paula Sibilia, dentre outras, para a nossa discussão, que também visa a ampliar as pesquisas sobre o “corpo grotesco”, no meio acadêmico.

Palavras- chave: Álvaro de Campos. Corpo. Grotesco. Crítica Literária. Mecanicismo.



RELAÇÃO ENTRE O EU E O MUNDO NA POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS

Camila Bastos Silva
Universidade do Estado da Bahia-UNEB

O presente trabalho propõe investigar a lírica de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, de modo a perceber a relação entre o eu e o mundo, a maneira como exprime em seus poemas um olhar crítico sobre a condição humana. Desse modo, Campos revela em sua poesia um eu lírico moderno pejado de sensacionismo, de exaltação à ciência e ao futurismo. Aqui, tomar-se-ão como objetos de análise cinco poemas, a saber: “Opiário”, “Lisbon Revisited”, "Tabacaria” e “Aniversário”, com base em leituras crítico-teóricas de autores como BAUMAN (1999) BOSI, Alfredo (2000), EYSEN, Adriano (2014), MASSAUD, Leyla Perrone (1982) e SEABRA, José Augusto (1988). Com efeito, têm-se o intuito de melhor investigar o deslocamento de Campos na modernidade.

Palavras-chave: Fernando Pessoa; Álvaro de Campos; Lírica; Poesia; Modernidade.



TRANSCENDÊNCIA E IMANÊNCIA NA POESIA DOS HETERÔNIMOS ÁLVARO DE CAMPOS E ALBERTO CAEIRO

Luiz Antonio de Carvalho Valverde
Universidade Estadual de Feira de Santana–UEFS

Discutiremos, no presente trabalho, as ideias de transcendência e imanência na poesia dos heterônimos Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Nesse processo, olhamos a transcendência como um ultrapassar da realidade imediata, para atingir o mundo objetivo. Entendemos por realidade imediata o mundo dos fenômenos sociais organizados através de processos de agenciamento; e por objetividade, o mundo das livres percepções, da experiência dos sentidos recebendo em caráter primário os estímulos. O estádio de imanência não se opõe, mas contracena com o caráter transcendente. Através da transcendência, o sujeito tenta ignorar as enunciações e chamados do mundo, os contingenciamentos, para olhar com a visão depurada, inaugural, um mundo mais próximo do que se pode imaginar como essencial. Trata-se de um processo de depuração, ou de regressão ao tempo da infância, anterior à queda no chamado “Trajeto Antropológico”, resultado dos imperativos biopsíquicos e das intimações do meio, de que fala Gilbert Durand. Tomaremos como referencial, além deste estudioso do imaginário, os estudos de José Gil, sobre a poesia de Fernando Pessoa, inspirados pelas ideias de Deleuze e Guattari, quanto aos processos de subjetivação sem sujeito, de construção de um corpo sem órgãos, em pura exterioridade. Dessa forma, os Eus enunciadores do poeta lusitano, construiriam seu estado de sensitividade, de imanência, para poder olhar as coisas e fenômenos num fora que equivale a uma espécie de êxtase, ou, pensando nos conhecimentos que Pessoa tinha do budismo, um estado zen. Também, serão importantes operadores deste percurso crítico as ideias dos pensadores Giorgio Agamben, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, entre outros.

Palavras-Chave: Transcendência. Imanência. Poesia dos heterônimos. Álvaro de Campos. Alberto Caeiro.


SALA MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO



A POESIA DE SÁ-CARNEIRO EM DIÁLOGO COM AS ARTES PLÁSTICAS SURREALISTAS
                                                                                                           Gustavo Henrique Rückert
Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS

“Patch-work de romântico, futurista, expressionista, decadente, simbolista, cubista”, como definiu Fernando Cabral Martins, e, é claro, sensacionista, é Mário de Sá-Carneiro. Sua poética abarca a ruptura da tradição lírica de um sujeito centrado, de identidade estável, e evidencia a crise identitária do sujeito moderno. Síntese do ideal estético do grupo Orpheu, o sensacionismo, teorizado por Fernando Pessoa, defende que “não existe a realidade, apenas existem sensações”. Assim, Sá-Carneiro revela-se o grande realizador prático da corrente de vanguarda portuguesa que aceitava a todas as escolas literárias, desde que sob o valor máximo da sensação. Pessoa representou a fragmentação que vivenciava o sujeito moderno por meio do “um só em muitos”; já Sá-Carneiro, por meio do “muitos em um só”. Desse modo, o sujeito-lírico de Sá-Carneiro sente intensamente por meio de cores, formas, aromas, sabores, estruturas poéticas tanto tradicionais quanto inovadoras, nunca conseguindo concluir a associação identitária entre as coisas (sobretudo ele mesmo) e a linguagem. Postado na Paris do início do século XX, viveu a ebulição cultural do surgimento de inúmeras vanguardas e os precedentes de tantas outras. Essa complexidade intertextual e contextual resultou, mesmo que de modo inconsciente, em marcas no fazer literário. “Todo texto é a absorção e transformação de outro texto”, diria Kristeva. Assim, diálogos artísticos se deram de modo complexo e nem um pouco estanque na poesia de Sá-Carneiro. É nesse sentido que podemos perceber elementos que evidenciam o diálogo de sua obra com as artes de vanguarda europeias (mesmo que não tenha pertencido assumidamente aos movimentos). Cleonice Berardinelli e Clara Rocha consideram o poeta precursor do surrealismo em Portugal. João Gaspar Simões condena veementemente essa posição. Desse modo, este trabalho pretende menos entrar na polêmica acerca das classificações (o que seria, inclusive, contraditório ao se considerar a questão identitária em sua obra) que analisar semelhanças e diferenças na poesia do jovem orphista com as artes plásticas surrealistas. Embora a poesia de Sá-Carneiro tenha sido cronologicamente anterior ao movimento surrealista, alguns elementos em comum (a fuga da realidade objetiva para o universo do sonho, a livre associação de ideias, a incapacidade da consciência de si e do mundo) podem ser encontrados na lírica do poeta português, do qual se poderia inclusive dizer por alguns momentos surrealizante.

Palavras-chave: Sá-Carneiro. Intertexto. Vanguarda. Sensacionismo. Surrealismo.


MAR PORTUGUEZ: UM PERCURSO DO REAL PARA O OUTRO LADO

Ismahêlson Luiz Andrade
UNIJORGE

O conteúdo, a estrutura, a forma, a identidade geral, observadas em uma determinada obra, possibilitam diferentes conceitos, visões, análises e influências aos autores de outras obras. Um texto pode manter um diálogo com outro, e, como observa J. Kristeva, todo texto é absorção e transformação de outro texto. A dependência de um texto a outro é um processo de reprocessamento ou continuidade do texto. Com estas considerações, e tendo poema épico Mensagem de Fernando Pessoa como objeto de análise, consideramos a presença de determinadas semelhanças e diferenças com o camoniano Os Lusíadas, o que possibilita a realização de um confronto entre os dois poemas. Uma relação que se torna mais próxima na terceira parte do poema “Mar Portuguez”, onde, num sentido do modelo camoniano, é refeito o percurso marítimo da expansão portuguesa. O navegar comprova a ânsia que faz mover o homem, e as duas concepções épicas, aqui consideradas, se entrecruzam no mar, tendo, portanto, o mesmo espaço dos seus acontecimentos. Publicado em 1934, Mensagem é uma poesia dividida em três partes, sendo elas BrasãoMar Portuguez e O Encoberto, e constituem uma obra identificada com um sentimento nacionalista, representando a história com a sua crise revolucionária de objetivos e ideais estéticos daquele momento denominado de Modernismo. Mar Portuguez é responsável por um encontro de relações entre Os Lusíadas e Mensagem. A ânsia, que caracteriza e impulsiona o homem, intensifica esta relação.

Palavras-chavePALAVRAS-CHAVE: Mar Portuguez. Mensagem. Os Lusiadas. Intertextualidade. Ânsia.



ORPHEU ACABOU, ORPHEU CONTINUA”: 
A INFLUÊNCIA DE ÁLVARO DE CAMPOS NA POESIA DE JOSÉ LUÍS PEIXOTO

Cristina Arena Forli
Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS

A revista Orpheu foi resultado de encontros entre um grupo de jovens artistas a partir de 1912 nos cafés e teatros de Lisboa. Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro são os principais idealizadores da revista, a qual tinha o intuito de realizar uma completa revolução artística e social e de defender e demonstrar valores estéticos que representassem a modernidade. É com a publicação de seus dois números, em 1915, que inicia o modernismo em Portugal. É também na revista Orpheu que Fernando Pessoa publica poemas de Álvaro de Campos, um de seus heterônimos. Campos dá continuidade à influência futurista que a revista evidenciava, mas sobretudo ao sensacionismo, cujo princípio é o de que a sensação é a única realidade possível. Apesar de a revista não ter chegado a sua terceira publicação por falta de recursos financeiros, Fernando Pessoa sabia de sua continuidade. E estava certo. Orpheu ainda hoje influencia autores com o legado que deixou. É o caso do português José Luís Peixoto. Em seus poemas, há o reconhecimento de que o repertório de signos de um sujeito o aprisiona e limita sua existência e sua percepção de mundo. A angústia refletida em sua obra vem da impossibilidade de enunciar o que, por ser tão intenso e sutil, é impossível ser enunciado. Vivendo o paradoxo de falar contra a alienação, desconfiando, concomitantemente, da alienação da fala, Peixoto recorre ao recurso da intertextualidade para construir sentidos nos seus poemas, na medida em que apresenta uma relação marcada tanto explícita quanto implicitamente com textos de Álvaro de Campos que lhe são anteriores. Assim como Campos, Peixoto também apresenta diferentes fases e altera os estados de ânimo em seus poemas, ora aproximando-os mais da segunda fase de Campos, ora da terceira. Nesse sentido, este trabalho pretende analisar alguns poemas de A criança em ruínas e sua relação com a poesia de Álvaro de Campos, de forma a evidenciar a persistência da influência de Orpheu. Para tanto, utiliza-se como aporte teórico as reflexões sobre intertextualidade de Julia Kristeva, Judith Still e Michael Worton.

Palavras-chave: Revista Orpheu. Álvaro de Campos.  José Luís Peixoto. Intertextualidade.



UMA RELEITURA SARAMAGUIANA DO HETERÔNIMO PESSOANO EM O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS

Patricia Conceição Silva Santos
Centro Universitário Jorge Amado

A apresentação deste trabalho visa abordar a releitura do heterônimo pessoano através da paródia do carpe diem na obra O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago. Inicialmente faremos uma breve exposição sobre a poesia ricardiana que, por sua vez revisita a lírica horaciana, nos versos em que o carpe diem - expressão latina que faz referência à fruição do momento e destituição de tudo que possa ameaçar esse prazer tais como preocupações com o futuro, apego aos bens materiais, entre outros; mostra-se presente. Ao mesmo tempo em que o heterônimo pessoano cultua o presente como momento único, ele propõe a renuncia a qualquer sentimento que possa trazer o sofrimento. Portanto, a nossa posição é a de que, assim como, o heterônimo pessoano referido revisita Horácio ao fazer referência ao Carpe diem - ao mesmo tempo em que defende a prática de uma vida contemplativa como forma de evitar o sofrimento; temos por outro lado, a abordagem de Saramago em sua releitura paródica do heterônimo pessoano. Adotaremos como procedimento para a análise deste assunto, o método comparativo em que primeiramente será abordado trechos poéticos do   heterônimo pessoano assim como trechos do romance em questão, levando em conta a releitura paródica da personagem de Ricardo Reis. Esta forma de abordagem considera os pressupostos teóricos que concebem a paródia como uma proposta de um outro olhar sobre o texto parodiado e, não simplesmente a sua negação. Diante disso, podemos conceber esta postura saramaguiana como um dos traços pós-modernos na obra em questão, além de se configurar como uma das manifestações da poética da modernidade. Logo, ao revisitar o heterônimo pessoano que cultua a contemplação do mundo como forma de evitar o sofrimento, Saramago reconstrói uma história para o Ricardo Reis, em que a personagem terá que se deparar com situações reais de cunho pessoal e político, tais como o seu envolvimento com Lídia - uma criada de hotel; ocasionando sua gravidez, além de ter que deparar-se com acontecimentos históricos como a ditadura salazarista, a invasão dos nazistas no Continente europeu, a guerra Civil espanhola, entre outros acontecimentos que terminam por envolvê-lo num dilema proposto por Saramago: Como enfrentar estes acontecimentos no papel de espectador da realidade?  

Palavras - chave: Paródia. Carpe diem. Lírica Heterônimo. Pós-modernismo.


MÚLTIPLOS OLHARES, CAMINHOS DO LABIRINTO: DESVIOS PARA A MESMA DOR EM POEMAS DE ALBERTO CAEIRO, RICARDO REIS E ÁLVARO DE CAMPOS?

Andréa Silva Santos
Universidade Estadual de Feira de Santan –UEFS

Pretendemos fazer algumas considerações sobre o olhar tecido por Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos em alguns poemas, destacando a maneira como os três heterônimos de Fernando Pessoa defendem uma postura particularizada, mas que no fim são enredados no mesmo labirinto. Este representa a falta de saída diante dos dilemas existenciais e lança na face do sujeito a condição solitária em que cada ser mergulha. Se debruçarmos o nosso olhar sobre Alberto Caeiro, encontramos um homem que se assume como simplista adorador do “cousismo”, ou seja, aquele que vê apenas o lado de fora, já que as coisas não têm interior, sendo somente coisas. A visão de Caeiro engendra um comportamento inteligente que pretende colocar o eu lírico acima das preocupações e da necessidade que o sujeito tem de conhecer, questionar. Se o homem não tem um lado mais profundo, por que o teriam os objetos, a natureza, as flores? Ele “tenta” encobrir esta necessidade, “escondendo” o lado de dentro, a interioridade e entendemos que se trata de encontrar um jeito de se preservar da dor. Em se tratando de Ricardo Reis, observamos a tentativa de driblar a angústia existencial. Logo, ele tem pretensões semelhantes àquelas almejadas por Caeiro. Todavia, trilha outro caminho e revela um projeto de natureza moldada, calculada, ou seja, plasmada no sentido de garantir ao sujeito um paliativo para seus males, os quais são provocados pela fugacidade dos sentimentos, a certeza da morte e a irrevogabilidade do Fatum, que persegue e silencia homens e coisas. Mais humano que todos é Álvaro de Campos. Este é o poeta das múltiplas sensações e que deseja sentir tudo de todas as formas. É ele quem mostra na escrita a dor em não pertencer a espaço nenhum; é o homem que se percebe imperfeito, fraco. É o poeta sem chão, sem raízes, em um mundo que começa a ser dominado por máquinas e tem nos ditames do progresso a regra básica, o fio condutor de vidas e afetividades. É o sujeito diluído no anonimato, em perene angústia de estar no mundo – cenário de conflitos – vivenciando a complexidade em lidar consigo e com os outros. Álvaro de Campos é o dono de um olhar que parece enlouquecido diante das mudanças do novo contexto, mas que, em outros instantes, volta-se para a infância e busca o irreal. Não seria também uma busca do eu poético para amenizar seu sofrimento? Concernente à retomada da infância, entendemos que se configura na construção de uma memória recheada de plasticidade a revelar a consagração dos instantes, mostrando não propriamente a infância, mas a sensação criada acerca desta.

Palavras-chave: Olhar. Dor. Alberto Caeiro. Ricardo Reis. Álvaro de Campos.


SALA ALMADA NEGREIROS



ALMADA NEGREIROS EM ORPHEU: ENTRE LITERATURA E VISUALIDADE - TRAÇOS DE UM MODERNISMO PORTUGUÊS REVOLUCIONÁRIO

Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva
Universidade do Estado da Bahia - UNEB

A partir de um estudo literário e semiótico da Revista Orpheu, pretende-se investigar as relações estéticas que se estabelecem entre texto literário e texto visual, principalmente tomando por corpus de análise algumas produções artísticas criadas por Almada Negreiros e que serviram de matéria ilustrativa para o periódico. Em meio a este diálogo entre linguagens, espera-se traduzir uma espécie de coerência textual e artística, capaz de revelar tons e nuanças de um modernismo português notadamente revolucionário e dado a público através de Orpheu. Interessa a esse estudo parte do movimento moderno idealizado, pensado e concretizado em torno da revista, aquele que se fez calcado nas principais referências artísticas em voga no continente europeu, à época, e que as ultrapassou em novas vertentes ruptoras. Nesse sentido, cabe passar em revista um pequeno extrato da arte almadina, levando-se em consideração a inerência de Negreiros ao grupo que se formou e deu expressão a Orpheu. Arte que se irradia a partir de um período histórico e literário que não se instala apenas em Portugal, mas que, antes, durante e depois de Orpheu, acaba por abrir linhas de um pensamento mais que literário e plástico, precursor de linguagens verbo/visuais que hoje estão ampliadas/amplificadas, em se tratando do corpo como linguagem em suas linhas de interação com a cidade. Não se trata de saber somente e parcialmente o que foi a geração órfica, mas de a conhecer principalmente com vistas a traduzir seu alcance revolucionário, para talvez especializar o olhar e vislumbrar as frentes estéticas/literárias que abriu a partir de seu tempo. Para tanto, com base na metodologia da pesquisa bibliográfica (e do método qualitativo), realizada em fontes documentais (impressas e eletrônicas), o aporte teórico que subsidiará a leitura crítica neste trabalho está pautado na história e na estética literárias que se ocupam do viés moderno expresso nas artes portuguesas de vanguarda (MELO e CASTRO, 1987, D'ALGE, 1989, JÚDICE, 1996 - entre outros) e nas semióticas visual (CANEVACCI, 2004) e da cultura  (LOTMAN, 1996), que ajudam a ler o que a arte elabora simbioticamente entre corpo, expressão imagética, literatura e cidade.

Palavras-chave: Almada Negreiros; Revista Orpheu; Literatura; Arte; Corpo; Cidade.



A METAPOETICIDADE NO POEMA “AUTOPSICOGRAFIA”.

Cristiane de Oliveira Cerqueira
Mônica da Costa Cintra
Patrícia Sousa
Universidade do Estadual de Feira de Santana-UEFS

Este trabalho tem o objetivo de propor reflexões a partir da análise do poema Autopsicografia do escritor português Fernando Pessoa. O referido poema trata-se de um dos mais conhecidos dentro da língua portuguesa, o mesmo, aborda o processo de criação poética. A primeira estrofe do poema estabelece dois planos iniciais que trata da criação literária, o primeiro, o da dor que o poeta “deveras sente” que representa o plano real, aquele que existe independente da sua vontade. E o segundo plano, que trata do ato de fingir, utilizado como instrumento de criação literária. Na segunda estrofe, Pessoa repete a mesma relação dicotômica entre fato e interpretação trazendo desta vez um plano que vai além da criação poética voltando-se para o leitor. Na terceira e última estrofe Fernando Pessoa repete a relação entre realidade e representação, a partir de um nível universal, desta vez o escritor não fala sobre o autor nem do leitor, mas da vida, e a relação entre realidade e fingimento é substituída pela dualidade entre razão e coração. Neste poema, o autor debruça-se sobre se mesmo e analisa o próprio ato de escrever para explicar o ato da criação e da estética, comparando a transfiguração poética ao fingimento, deixando implícito que o único compromisso da linguagem poética é com a própria poesia. O poema explica-se enquanto projeto de elaboração literária buscando explicar através dele mesmo a própria poesia, são nesses aspectos que encontram-se a metapoeticidade, ferramenta estética que será analisada neste trabalho.

Palavras-chave: Autopsicografia. Aálise. Metapoeticidade. Fernando Pessoa.



MIGUEL TORGA E ÁLVARO DE CAMPOS: INDIVIDUALISMO, EXISTENCIALISMO E ISOLAMENTO

Juliana Rodrigues Salles
Isaura Santos Souza
Erick Naldimar Santos
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS

O crescimento e o desenvolvimento industrial marcantes no século XIX agiram como uma espécie de divisor de águas nas grandes metrópoles. Além das mudanças na arquitetura, ciência e tecnologia, houve uma grande evasão do campo para as cidades, por conta principalmente das oportunidades de emprego na indústria. O contingente populacional era crescente e exigia constantes remodelagens urbanas. A partir desse emaranhado de mudanças, a sociedade na Europa tornou-se muito mais urbana, tecnológica e moderna, mas constituída de paradoxos que são um retrato da modernidade: indivíduo/mercadorias, progresso/miséria, aglomeração/solidão. Os paradoxos modernos chamam atenção do artista, que está acompanhando esses processos de forma pouco positiva, fotografando e externalizando, através de versos ou prosa, o descontentamento com as situações que hora fascinam, hora desesperam. É uma relação de amor e ódio, o poeta está perdido, desencantado em meio ao caos social e visual, desenvolvendo, por vezes, a necessidade de se fechar para o mundo, de ser individualista. Esses momentos de reflexão da sua própria consciência, da condição humana, das idéias de isolamento e o desejo de ser livre podem ser vistos em obras de grandes poetas modernistas portugueses, como Fernando Pessoa e Miguel Torga. A partir dessa premissa, é proposta a análise da poesia “Lisbon Revisited (1923)” do heterônimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos e “Livro das Horas” de Miguel Torga. Álvaro de Campos trata o homem moderno marcado por subjetividades, angustiado, conflituoso, atormentado pela efemeridade da vida. Miguel Torga traz influências de Campos, desenhando o homem cheio de questionamentos, com desespero de consciência, em plena crise existencialista, perdido em um mundo cheio de possibilidades, mas também cheio de regras e limitações. Através do estudo de obras desses autores é possível fazer a análise comparativa e perceber similitudes nos temas, na angústia, na reflexão da condição humana, na consciência e nos pontos de vista individuais contrários às imposições da civilização, demonstrando o desejo de isolamento, em contrapartida ao crescente padrão de vida pautada em coletividade e urbanidade.

Palavras-chave: Miguel Torga. Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Isolamento. Modernidade.



EM CADA CANTO UM DESENCANTO: PEREYR AO AVESSO E O ENIGMA NA PESSOA DE ÁLVARO DE CAMPOS

Erick Naldimar dos Santos
Juliana Rodrigues Salles
Isaura dos Santos Souza
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS

Os caminhos que precisam ser percorridos pelos poetas deverão ser aqueles que o estimulam, provocam, e os impulsionam a estarem atentos aos ruídos avassaladores dos novos tempos, e ao vertiginoso processo fragmentário ocasionado pela modernidade. Neste cenário em que se frutifica a ambiguidade, o dissenso, a evasão da realidade cotidiana é que construiremos um entrecruzamento entre a poesia de Roberval Pereyr e Fernando Pessoa, especificamente, com seu heterônimo Álvaro de Campos. Pretende-se revelar imagens poéticas que retratam um eu-lírico envolto nas suas inquietações, angústias e profunda instabilidade psicológica frente ao caos da modernidade. Tanto Pereyr quanto Álvaro se configuram como poetas irreconciliáveis com seu tempo e suas vozes se encontram quando denunciam a realidade, vivenciam as tensões e rabiscam através de seus versos sua percepção lírico psicológica que incita os leitores a profundas reflexões. A poesia do heterônimo Álvaro de Campos bem como a de Roberval Pereyr cultivam o próprio anseio de partir, de firmar seu deslocamento e celebra em seus poemas um estilo torrencial, plural, delirante, expressando o seu desencanto com a contemporaneidade.  A trajetória como poetas decadentistas exprimem o tédio, o cansaço, a desilusão, o pessimismo e a necessidade de novos olhares para fugir da rotina. São estes ecos que serão analisados nas poesias de Álvaro de Campos, tais como, “Ode triunfal” (1914), “Tabacaria” (1928), “Passagem das horas” (1916), “Apontamento” (1929) e “Poema Em Linha Reta” (1972); e nos poemas do livro Amálgama (2004) de Roberval Pereyr. O certo é que o poeta de Antônio Cardoso/BA e o universal poeta português são estes artesãos das palavras que expressam em sua poética uma contínua inquietude e exploram as regiões mais extremas da sensibilidade, das tensões e do inconsciente. Nestas veredas que refletem a fragmentação do sujeito deslocado, que proporciona segurança em terrenos inseguros podemos localizar estes poetas como um incompreendido, angustiado e descrente em relação a tudo que provoca esta tensão e a esta áurea nostálgica.

Palavras-Chave: Fragmentação. Entrecruzamento. Modernidade. Inquietação. Tensões.



CLAROS ENIGMAS: O MISTÉRIO DAS COUSAS EM PESSOA E DRUMMOND

Alana de O. Freitas El Fahl
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS

Carlos Drummond de Andrade em seu livro Farewell (1987) constrói alguns poemas em homenagem às obras de arte e autores de sua predileção. Dentre os poetas eleitos, destaca-se Fernando Pessoa, tema do poema As identidades do poeta. Em nove estrofes, o autor mineiro busca compreender quem era o poeta português, através de algumas perguntas sobre as variadas faces do escritor, revelando sua admiração pelo mestre luso. Há muitos pontos de convergência entre esses dois escritores seminais da Língua Portuguesa. Dentre eles podemos destacar aspectos formais, como o uso de variadas formas poéticas, quanto aspectos temáticos, como o diálogo profícuo com a tradição e com a História pátria e a marca da metalinguagem, dentre outros. Além desses temas, temos em ambos uma procura pela compreensão do mundo que lhes cerca. É objetivo do presente artigo analisar a presença da reflexão sobre “a verdade” ou “o mistério das cousas”, expressões constantes nas suas poéticas, e a aceitação dessa impossibilidade em alguns textos em estudo. Pessoa e Drummond trouxeram para o centro de suas obras a tentativa de apreensão do conhecimento, todavia, como autores modernos que o são só encontraram mais perguntas.

Palavras-chave: Fernando Pessoa. Carlos Drummond de Andrade. Modernidade. Conhecimento.

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