SALA FERNANDO PESSOA
A VIDA URBANA NA POÉTICA DE ÁLVARO DE CAMPOS
Lorena Brito de Oliveira
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Álvaro de Campos é dos mais expressivos heterônimos
de Fernando Pessoa, visto que apresenta uma característica singular em sua
poesia: seus versos assemelham-se à prosa. Outra particularidade que Campos
apresenta em sua lírica é a forma como expõe o espaço em seus versos, seja ele
urbano ou marítimo. O enfoque deste trabalho consiste em ressaltar o
significado dos espaços de modo a perceber a relação como a cidade aparece em
Álvaro de Campos, delineando as imagens urbanas e a maneira como exprime em seus
poemas o eu poético do homem da civilização. Para isso, serão analisados
os seguintes poemas: “Ode Marítima”, “Ode Triunfal”, “Tabacaria”, “Lisbon
Revisted (1923)”, “Saudação a W. Whitman” e “Notas em Tavira”. Nesses versos,
serão ponderados a maneira como o poeta trata os espaços marítimos e urbanos.
Portanto, a base teórica usada será: José Augusto Seabra trazendo Fernando pessoa ou Poetodrama (1988);
Leyla Perrone Moisés, referindo o desdobramento do poeta em vários eus em, Aquém do eu, além do outro (1982),
Adriano Eysen Rego em: A lírica da ausência na poética de Álvaro de Campos
e Mário de Sá-Carneiro (2014) e Gaston Bachelard em: A poética do espaço (2005)
e Robert Bréchon, Fernando Pessoa, Estranho Estrangeiro: Uma biografia (1998),
relatando a obra e vida do poeta português. Dessa forma, busca-se encontrar em
sua produção poética um ambiente que está relacionado não apenas para o
desenrolar da ação, mas também, como tema principal de sua lírica.
Palvras-Chave: Àlvaro de Campos. Fernando
Pessoa. Imagens Urbanas. Espaço Urbano.
'OUTRA VEZ TE REVEJO': AS MARCAS DA
MODERNIDADE E VOZES DISSONANTES EM LISBON REVISITED, DE ÁLVARO DE CAMPOS
Isaura dos Santos Souza
Juliana Rodrigues Salles
Erick Naldimardos Santos
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
Sabe-se que a humanidade desde os tempos pré-históricos tem vivenciado
intensos processos de transformações num ir e vir de construções,
desconstruções e reconstruções que se desenrolam e vão delineando as sociedades
e o seu tempo. Mas, sem evocar um tom presunçoso, o fim do século XIX e
transcorrer do século XX vivenciou um intenso processo de instabilidades,
rupturas e transformações, que delineou/delineia a ideia de modernidade. São
várias as fontes que motivam esse ‘turbilhão’ da vida moderna, influenciado
pelo mercado capitalista mundial, drasticamente flutuante e em intenso processo
de expansão, num “perpétuo processo de vir-a-ser”, podendo ser assim chamado de
‘modernização’, que se expande por todo o mundo. Diante dessa nova paisagem e
sentimentos, “a moderna humanidade” se vê em meio a uma enorme ausência e vazio
de valores, mas, ao mesmo tempo, em meio a uma desconcertante abundância de
possibilidades. Fernando Pessoa é um dos muitos poetas, frente à modernidade,
que representa o entusiasmo e admiração pelos grandes meios, as grandes
cidades, pelo progresso e pela modernização, ao mesmo tempo em que estabelecia
certa oposição a algumas das mais explícitas proclamações do mundo moderno. A
presente comunicação busca tecer diálogos entre alguns textos de reflexões
críticas sobre a modernidade, circunscrevendo a referências
histórica-contextuais de Portugal e sobre o poeta Fernando Pessoa, para, na
fronteira porosa entre a história e literatura, captar as marcas da modernidade
apresentadas no interior das poesias de Lisbon Revisited (1923
e 1926), do heterônimo Álvaro de Campos. Estes poemas selecionados contam com
um eu-lírico que cristaliza o homem moderno, marcado pelas consequências e
mudanças impressas no século XX, desapontado com as engrenagens alcançadas pelo
período que não corresponde de modo positivo suas expectativas. Nítido exemplo
de caminho da indagação e inquietude enveredada em certos poemas de Fernando
Pessoa, utilizando-se da máscara de Álvaro de Campos, que representa uma mente
privilegiada a qual problematiza a relação que existe entre as instituições de
um mundo de absolutos e a realidade relativa.
Palavras-chave: História. Lliteratura. Modernidade.
Poesia portuguesa. Fernando Pessoa.
O CORPO GROTESCO EM ODE TRIUNFAL:
UMA FACE DA CRÍTICA SOCIAL DE CAMPOS
Tércia Costa Valverde
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
Sabemos que o futurista Álvaro de Campos expôs à sociedade portuguesa as
inquietações humanas, por vezes, encobertas pelos demais heterônimos e, até
mesmo, pelo próprio Fernando Pessoa. Em “Ode Triunfal” (1914),
Campos nos convida a uma leitura crítica dos novos valores mecanicistas, no
início do século XX, no Ocidente. Nesse contexto, se o valor da vida está
atrelado à máquina, o homem engenha-se. Reifica-se. Torna-se, grotescamente,
objeto. Difícil situação para o artista, que não aceita a triste realidade
pragmática que começa a crescer diante dos seus olhos. O que fazer então
perante a ameaça dos “maquinismos e afazeres úteis“? Reler o mundo com os olhos
grotescos, talvez, seja uma forma de enxergá-lo melhor. Mas, como perceber o
grotesco como ferramenta de desconstrução social, em “Ode Triunfal”? Tentaremos
demonstrar que o ser humano é posto em xeque, carnavalizado e seriamente
criticado, no referido poema, sendo ainda por Campos evidenciada a face
excêntrica de seu corpo (ao fundir-se à máquina), como uma maneira de se
criticar a sociedade ocidental, que ainda hoje, valoriza o consumo e os bens
materiais. Tomaremos como base teórica as ideias de Kayser, Eco, Foucault, Le
Breton, Paula Sibilia, dentre outras, para a nossa discussão, que também visa a
ampliar as pesquisas sobre o “corpo grotesco”, no meio acadêmico.
Palavras- chave: Álvaro de Campos. Corpo. Grotesco. Crítica
Literária. Mecanicismo.
RELAÇÃO ENTRE O EU E O MUNDO NA POESIA DE ÁLVARO DE
CAMPOS
Camila Bastos Silva
Universidade do Estado da Bahia-UNEB
O presente trabalho propõe investigar a lírica de Álvaro de Campos, um
dos heterônimos de Fernando Pessoa, de modo a perceber a relação entre o eu e o
mundo, a maneira como exprime em seus poemas um olhar crítico sobre a condição
humana. Desse modo, Campos revela em sua poesia um eu lírico moderno pejado de
sensacionismo, de exaltação à ciência e ao futurismo. Aqui, tomar-se-ão como
objetos de análise cinco poemas, a saber: “Opiário”, “Lisbon Revisited”,
"Tabacaria” e “Aniversário”, com base em leituras crítico-teóricas de
autores como BAUMAN (1999) BOSI, Alfredo (2000), EYSEN, Adriano (2014),
MASSAUD, Leyla Perrone (1982) e SEABRA, José Augusto (1988). Com efeito, têm-se
o intuito de melhor investigar o deslocamento de Campos na modernidade.
Palavras-chave: Fernando Pessoa; Álvaro de Campos; Lírica; Poesia; Modernidade.
TRANSCENDÊNCIA E IMANÊNCIA
NA POESIA DOS HETERÔNIMOS ÁLVARO DE CAMPOS E ALBERTO CAEIRO
Luiz Antonio de Carvalho Valverde
Universidade Estadual de Feira de Santana–UEFS
Discutiremos, no presente trabalho, as ideias de transcendência e
imanência na poesia dos heterônimos Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Nesse
processo, olhamos a transcendência como um ultrapassar da realidade imediata,
para atingir o mundo objetivo. Entendemos por realidade imediata o mundo dos
fenômenos sociais organizados através de processos de agenciamento; e por
objetividade, o mundo das livres percepções, da experiência dos sentidos
recebendo em caráter primário os estímulos. O estádio de imanência não se opõe,
mas contracena com o caráter transcendente. Através da transcendência, o
sujeito tenta ignorar as enunciações e chamados do mundo, os
contingenciamentos, para olhar com a visão depurada, inaugural, um mundo mais
próximo do que se pode imaginar como essencial. Trata-se de um processo de
depuração, ou de regressão ao tempo da infância, anterior à queda no chamado
“Trajeto Antropológico”, resultado dos imperativos biopsíquicos e das
intimações do meio, de que fala Gilbert Durand. Tomaremos como referencial, além
deste estudioso do imaginário, os estudos de José Gil, sobre a poesia de
Fernando Pessoa, inspirados pelas ideias de Deleuze e Guattari, quanto aos
processos de subjetivação sem sujeito, de construção de um corpo sem órgãos, em
pura exterioridade. Dessa forma, os Eus enunciadores do poeta lusitano,
construiriam seu estado de sensitividade, de imanência, para poder olhar as
coisas e fenômenos num fora que equivale a uma espécie de êxtase, ou, pensando
nos conhecimentos que Pessoa tinha do budismo, um estado zen. Também, serão
importantes operadores deste percurso crítico as ideias dos pensadores Giorgio
Agamben, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, entre outros.
Palavras-Chave: Transcendência. Imanência. Poesia dos heterônimos. Álvaro de
Campos. Alberto Caeiro.
SALA MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
A POESIA DE SÁ-CARNEIRO EM
DIÁLOGO COM AS ARTES PLÁSTICAS SURREALISTAS
Gustavo Henrique Rückert
Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS
“Patch-work de romântico, futurista,
expressionista, decadente, simbolista, cubista”, como definiu Fernando Cabral
Martins, e, é claro, sensacionista, é Mário de Sá-Carneiro. Sua poética abarca
a ruptura da tradição lírica de um sujeito centrado, de identidade estável, e
evidencia a crise identitária do sujeito moderno. Síntese do ideal estético do
grupo Orpheu, o sensacionismo, teorizado por Fernando Pessoa, defende que “não
existe a realidade, apenas existem sensações”. Assim, Sá-Carneiro revela-se o
grande realizador prático da corrente de vanguarda portuguesa que aceitava a
todas as escolas literárias, desde que sob o valor máximo da sensação. Pessoa
representou a fragmentação que vivenciava o sujeito moderno por meio do “um só
em muitos”; já Sá-Carneiro, por meio do “muitos em um só”. Desse modo, o
sujeito-lírico de Sá-Carneiro sente intensamente por meio de cores, formas,
aromas, sabores, estruturas poéticas tanto tradicionais quanto inovadoras,
nunca conseguindo concluir a associação identitária entre as coisas (sobretudo
ele mesmo) e a linguagem. Postado na Paris do início do século XX, viveu a
ebulição cultural do surgimento de inúmeras vanguardas e os precedentes de
tantas outras. Essa complexidade intertextual e contextual resultou, mesmo que
de modo inconsciente, em marcas no fazer literário. “Todo texto é a absorção e
transformação de outro texto”, diria Kristeva. Assim, diálogos artísticos se
deram de modo complexo e nem um pouco estanque na poesia de Sá-Carneiro. É
nesse sentido que podemos perceber elementos que evidenciam o diálogo de sua
obra com as artes de vanguarda europeias (mesmo que não tenha pertencido
assumidamente aos movimentos). Cleonice Berardinelli e Clara Rocha consideram o
poeta precursor do surrealismo em Portugal. João Gaspar Simões condena
veementemente essa posição. Desse modo, este trabalho pretende menos entrar na
polêmica acerca das classificações (o que seria, inclusive, contraditório ao se
considerar a questão identitária em sua obra) que analisar semelhanças e
diferenças na poesia do jovem orphista com as artes plásticas surrealistas.
Embora a poesia de Sá-Carneiro tenha sido cronologicamente anterior ao
movimento surrealista, alguns elementos em comum (a fuga da realidade objetiva
para o universo do sonho, a livre associação de ideias, a incapacidade da
consciência de si e do mundo) podem ser encontrados na lírica do poeta
português, do qual se poderia inclusive dizer por alguns momentos
surrealizante.
Palavras-chave: Sá-Carneiro. Intertexto. Vanguarda. Sensacionismo. Surrealismo.
MAR PORTUGUEZ: UM PERCURSO DO REAL PARA O OUTRO
LADO
Ismahêlson Luiz Andrade
UNIJORGE
O conteúdo, a estrutura, a forma, a identidade geral, observadas em uma
determinada obra, possibilitam diferentes conceitos, visões, análises e
influências aos autores de outras obras. Um texto pode manter um diálogo com
outro, e, como observa J. Kristeva, todo texto é absorção e transformação de
outro texto. A dependência de um texto a outro é um processo de reprocessamento
ou continuidade do texto. Com estas considerações, e tendo poema épico Mensagem de
Fernando Pessoa como objeto de análise, consideramos a presença de determinadas
semelhanças e diferenças com o camoniano Os Lusíadas, o que
possibilita a realização de um confronto entre os dois poemas. Uma relação que
se torna mais próxima na terceira parte do poema “Mar Portuguez”, onde, num
sentido do modelo camoniano, é refeito o percurso marítimo da expansão
portuguesa. O navegar comprova a ânsia que faz mover o homem, e as duas
concepções épicas, aqui consideradas, se entrecruzam no mar, tendo, portanto, o
mesmo espaço dos seus acontecimentos. Publicado em 1934, Mensagem é
uma poesia dividida em três partes, sendo elas Brasão, Mar
Portuguez e O Encoberto, e constituem uma obra
identificada com um sentimento nacionalista, representando a história com a sua
crise revolucionária de objetivos e ideais estéticos daquele momento denominado
de Modernismo. Mar Portuguez é responsável por um encontro de
relações entre Os Lusíadas e Mensagem. A ânsia,
que caracteriza e impulsiona o homem, intensifica esta relação.
Palavras-chavePALAVRAS-CHAVE: Mar Portuguez. Mensagem. Os Lusiadas.
Intertextualidade. Ânsia.
“ORPHEU ACABOU, ORPHEU CONTINUA”:
A INFLUÊNCIA DE ÁLVARO DE
CAMPOS NA POESIA DE JOSÉ LUÍS PEIXOTO
Cristina Arena Forli
Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS
A revista Orpheu foi resultado de encontros entre um
grupo de jovens artistas a partir de 1912 nos cafés e teatros de Lisboa.
Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro são os principais idealizadores da
revista, a qual tinha o intuito de realizar uma completa revolução artística e
social e de defender e demonstrar valores estéticos que representassem a
modernidade. É com a publicação de seus dois números, em 1915, que inicia o
modernismo em Portugal. É também na revista Orpheu que
Fernando Pessoa publica poemas de Álvaro de Campos, um de seus heterônimos.
Campos dá continuidade à influência futurista que a revista evidenciava, mas
sobretudo ao sensacionismo, cujo princípio é o de que a sensação é a única
realidade possível. Apesar de a revista não ter chegado a sua terceira
publicação por falta de recursos financeiros, Fernando Pessoa sabia de sua
continuidade. E estava certo. Orpheu ainda hoje influencia
autores com o legado que deixou. É o caso do português José Luís Peixoto. Em
seus poemas, há o reconhecimento de que o repertório de signos de um sujeito o
aprisiona e limita sua existência e sua percepção de mundo. A angústia
refletida em sua obra vem da impossibilidade de enunciar o que, por ser tão
intenso e sutil, é impossível ser enunciado. Vivendo o paradoxo de falar contra
a alienação, desconfiando, concomitantemente, da alienação da fala, Peixoto
recorre ao recurso da intertextualidade para construir sentidos nos seus
poemas, na medida em que apresenta uma relação marcada tanto explícita quanto
implicitamente com textos de Álvaro de Campos que lhe são anteriores. Assim
como Campos, Peixoto também apresenta diferentes fases e altera os estados de
ânimo em seus poemas, ora aproximando-os mais da segunda fase de Campos, ora da
terceira. Nesse sentido, este trabalho pretende analisar alguns poemas de A
criança em ruínas e sua relação com a poesia de Álvaro de Campos, de
forma a evidenciar a persistência da influência de Orpheu. Para
tanto, utiliza-se como aporte teórico as reflexões sobre intertextualidade de
Julia Kristeva, Judith Still e Michael Worton.
Palavras-chave: Revista Orpheu. Álvaro de Campos. José Luís Peixoto.
Intertextualidade.
UMA RELEITURA SARAMAGUIANA
DO HETERÔNIMO PESSOANO EM O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS
Patricia Conceição Silva Santos
Centro Universitário Jorge Amado
A apresentação deste trabalho visa abordar a releitura do heterônimo
pessoano através da paródia do carpe diem na obra O ano da morte de
Ricardo Reis, de José Saramago. Inicialmente faremos uma breve exposição
sobre a poesia ricardiana que, por sua vez revisita a lírica horaciana, nos
versos em que o carpe diem - expressão latina que faz referência à fruição do
momento e destituição de tudo que possa ameaçar esse prazer tais como preocupações
com o futuro, apego aos bens materiais, entre outros; mostra-se presente. Ao
mesmo tempo em que o heterônimo pessoano cultua o presente como momento único,
ele propõe a renuncia a qualquer sentimento que possa trazer o sofrimento.
Portanto, a nossa posição é a de que, assim como, o heterônimo pessoano
referido revisita Horácio ao fazer referência ao Carpe diem - ao mesmo tempo em
que defende a prática de uma vida contemplativa como forma de evitar o
sofrimento; temos por outro lado, a abordagem de Saramago em sua releitura
paródica do heterônimo pessoano. Adotaremos como procedimento para a análise
deste assunto, o método comparativo em que primeiramente será abordado trechos
poéticos do heterônimo pessoano assim como trechos do romance em
questão, levando em conta a releitura paródica da personagem de Ricardo Reis.
Esta forma de abordagem considera os pressupostos teóricos que concebem a
paródia como uma proposta de um outro olhar sobre o texto parodiado e, não
simplesmente a sua negação. Diante disso, podemos conceber esta postura
saramaguiana como um dos traços pós-modernos na obra em questão, além de se
configurar como uma das manifestações da poética da modernidade. Logo, ao
revisitar o heterônimo pessoano que cultua a contemplação do mundo como forma
de evitar o sofrimento, Saramago reconstrói uma história para o Ricardo Reis,
em que a personagem terá que se deparar com situações reais de cunho pessoal e
político, tais como o seu envolvimento com Lídia - uma criada de hotel;
ocasionando sua gravidez, além de ter que deparar-se com acontecimentos
históricos como a ditadura salazarista, a invasão dos nazistas no Continente
europeu, a guerra Civil espanhola, entre outros acontecimentos que terminam por
envolvê-lo num dilema proposto por Saramago: Como enfrentar estes
acontecimentos no papel de espectador da realidade?
Palavras - chave: Paródia. Carpe diem. Lírica Heterônimo.
Pós-modernismo.
MÚLTIPLOS OLHARES, CAMINHOS DO LABIRINTO: DESVIOS
PARA A MESMA DOR EM POEMAS DE ALBERTO CAEIRO, RICARDO REIS E ÁLVARO DE CAMPOS?
Andréa Silva Santos
Universidade Estadual de Feira de Santan –UEFS
Pretendemos fazer algumas considerações sobre o
olhar tecido por Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos em alguns
poemas, destacando a maneira como os três heterônimos de Fernando Pessoa
defendem uma postura particularizada, mas que no fim são enredados no mesmo
labirinto. Este representa a falta de saída diante dos dilemas existenciais e
lança na face do sujeito a condição solitária em que cada ser mergulha. Se
debruçarmos o nosso olhar sobre Alberto Caeiro, encontramos um homem que se
assume como simplista adorador do “cousismo”, ou seja, aquele que vê apenas o
lado de fora, já que as coisas não têm interior, sendo somente coisas. A visão
de Caeiro engendra um comportamento inteligente que pretende colocar o eu
lírico acima das preocupações e da necessidade que o sujeito tem de conhecer,
questionar. Se o homem não tem um lado mais profundo, por que o teriam os
objetos, a natureza, as flores? Ele “tenta” encobrir esta necessidade,
“escondendo” o lado de dentro, a interioridade e entendemos que se trata de
encontrar um jeito de se preservar da dor. Em se tratando de Ricardo Reis,
observamos a tentativa de driblar a angústia existencial. Logo, ele tem
pretensões semelhantes àquelas almejadas por Caeiro. Todavia, trilha outro
caminho e revela um projeto de natureza moldada, calculada, ou seja, plasmada
no sentido de garantir ao sujeito um paliativo para seus males, os quais são
provocados pela fugacidade dos sentimentos, a certeza da morte e a
irrevogabilidade do Fatum, que persegue e silencia homens e coisas. Mais humano
que todos é Álvaro de Campos. Este é o poeta das múltiplas sensações e que
deseja sentir tudo de todas as formas. É ele quem mostra na escrita a dor em
não pertencer a espaço nenhum; é o homem que se percebe imperfeito, fraco. É o
poeta sem chão, sem raízes, em um mundo que começa a ser dominado por máquinas
e tem nos ditames do progresso a regra básica, o fio condutor de vidas e
afetividades. É o sujeito diluído no anonimato, em perene angústia de estar no
mundo – cenário de conflitos – vivenciando a complexidade em lidar consigo e
com os outros. Álvaro de Campos é o dono de um olhar que parece enlouquecido
diante das mudanças do novo contexto, mas que, em outros instantes, volta-se
para a infância e busca o irreal. Não seria também uma busca do eu poético para
amenizar seu sofrimento? Concernente à retomada da infância, entendemos que se
configura na construção de uma memória recheada de plasticidade a revelar a
consagração dos instantes, mostrando não propriamente a infância, mas a sensação
criada acerca desta.
Palavras-chave: Olhar. Dor. Alberto Caeiro. Ricardo Reis. Álvaro de Campos.
SALA ALMADA NEGREIROS
ALMADA NEGREIROS EM ORPHEU: ENTRE
LITERATURA E VISUALIDADE - TRAÇOS DE UM MODERNISMO PORTUGUÊS REVOLUCIONÁRIO
Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
A partir de um estudo literário e semiótico da Revista Orpheu,
pretende-se investigar as relações estéticas que se estabelecem entre texto
literário e texto visual, principalmente tomando por corpus de
análise algumas produções artísticas criadas por Almada Negreiros e que
serviram de matéria ilustrativa para o periódico. Em meio a este diálogo entre
linguagens, espera-se traduzir uma espécie de coerência textual e artística,
capaz de revelar tons e nuanças de um modernismo português notadamente
revolucionário e dado a público através de Orpheu. Interessa a esse
estudo parte do movimento moderno idealizado, pensado e concretizado em torno
da revista, aquele que se fez calcado nas principais referências artísticas em
voga no continente europeu, à época, e que as ultrapassou em novas vertentes
ruptoras. Nesse sentido, cabe passar em revista um pequeno extrato da arte
almadina, levando-se em consideração a inerência de Negreiros ao grupo que se
formou e deu expressão a Orpheu. Arte que se irradia a partir de um
período histórico e literário que não se instala apenas em Portugal, mas que,
antes, durante e depois de Orpheu, acaba por abrir linhas de um
pensamento mais que literário e plástico, precursor de linguagens verbo/visuais
que hoje estão ampliadas/amplificadas, em se tratando do corpo como linguagem
em suas linhas de interação com a cidade. Não se trata de saber somente e
parcialmente o que foi a geração órfica, mas de a conhecer principalmente com
vistas a traduzir seu alcance revolucionário, para talvez especializar o olhar
e vislumbrar as frentes estéticas/literárias que abriu a partir de seu tempo.
Para tanto, com base na metodologia da pesquisa bibliográfica (e do método qualitativo),
realizada em fontes documentais (impressas e eletrônicas), o aporte teórico que
subsidiará a leitura crítica neste trabalho está pautado na história e na
estética literárias que se ocupam do viés moderno expresso nas artes
portuguesas de vanguarda (MELO e CASTRO, 1987, D'ALGE, 1989, JÚDICE, 1996 -
entre outros) e nas semióticas visual (CANEVACCI, 2004) e da cultura
(LOTMAN, 1996), que ajudam a ler o que a arte elabora simbioticamente entre
corpo, expressão imagética, literatura e cidade.
Palavras-chave: Almada Negreiros; Revista Orpheu; Literatura; Arte;
Corpo; Cidade.
A METAPOETICIDADE NO POEMA “AUTOPSICOGRAFIA”.
Cristiane de Oliveira Cerqueira
Mônica da Costa Cintra
Patrícia Sousa
Universidade do Estadual de Feira de Santana-UEFS
Este trabalho tem o objetivo de propor reflexões a partir da análise do
poema Autopsicografia do escritor português Fernando Pessoa. O referido poema
trata-se de um dos mais conhecidos dentro da língua portuguesa, o mesmo, aborda
o processo de criação poética. A primeira estrofe do poema estabelece dois
planos iniciais que trata da criação literária, o primeiro, o da dor que o
poeta “deveras sente” que representa o plano real, aquele que existe independente
da sua vontade. E o segundo plano, que trata do ato de fingir, utilizado como
instrumento de criação literária. Na segunda estrofe, Pessoa repete a mesma
relação dicotômica entre fato e interpretação trazendo desta vez um plano que
vai além da criação poética voltando-se para o leitor. Na terceira e última
estrofe Fernando Pessoa repete a relação entre realidade e representação, a
partir de um nível universal, desta vez o escritor não fala sobre o autor nem
do leitor, mas da vida, e a relação entre realidade e fingimento é substituída
pela dualidade entre razão e coração. Neste poema, o autor debruça-se sobre se
mesmo e analisa o próprio ato de escrever para explicar o ato da criação e da
estética, comparando a transfiguração poética ao fingimento, deixando implícito
que o único compromisso da linguagem poética é com a própria poesia. O poema
explica-se enquanto projeto de elaboração literária buscando explicar através
dele mesmo a própria poesia, são nesses aspectos que encontram-se a
metapoeticidade, ferramenta estética que será analisada neste trabalho.
Palavras-chave: Autopsicografia. Aálise. Metapoeticidade. Fernando Pessoa.
MIGUEL TORGA E ÁLVARO DE CAMPOS: INDIVIDUALISMO, EXISTENCIALISMO E
ISOLAMENTO
Juliana Rodrigues Salles
Isaura Santos Souza
Erick Naldimar Santos
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
O crescimento e o desenvolvimento industrial marcantes no século XIX
agiram como uma espécie de divisor de águas nas grandes metrópoles. Além das
mudanças na arquitetura, ciência e tecnologia, houve uma grande evasão do campo
para as cidades, por conta principalmente das oportunidades de emprego na
indústria. O contingente populacional era crescente e exigia constantes
remodelagens urbanas. A partir desse emaranhado de mudanças, a sociedade na
Europa tornou-se muito mais urbana, tecnológica e moderna, mas constituída de
paradoxos que são um retrato da modernidade: indivíduo/mercadorias,
progresso/miséria, aglomeração/solidão. Os paradoxos modernos chamam atenção do
artista, que está acompanhando esses processos de forma pouco positiva,
fotografando e externalizando, através de versos ou prosa, o descontentamento
com as situações que hora fascinam, hora desesperam. É uma relação de amor e
ódio, o poeta está perdido, desencantado em meio ao caos social e visual,
desenvolvendo, por vezes, a necessidade de se fechar para o mundo, de ser
individualista. Esses momentos de reflexão da sua própria consciência, da
condição humana, das idéias de isolamento e o desejo de ser livre podem ser
vistos em obras de grandes poetas modernistas portugueses, como Fernando Pessoa
e Miguel Torga. A partir dessa premissa, é proposta a análise da poesia “Lisbon
Revisited (1923)” do heterônimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos e “Livro
das Horas” de Miguel Torga. Álvaro de Campos trata o homem moderno marcado por
subjetividades, angustiado, conflituoso, atormentado pela efemeridade da vida.
Miguel Torga traz influências de Campos, desenhando o homem cheio de
questionamentos, com desespero de consciência, em plena crise existencialista,
perdido em um mundo cheio de possibilidades, mas também cheio de regras e
limitações. Através do estudo de obras desses autores é possível fazer a
análise comparativa e perceber similitudes nos temas, na angústia, na reflexão
da condição humana, na consciência e nos pontos de vista individuais contrários
às imposições da civilização, demonstrando o desejo de isolamento, em
contrapartida ao crescente padrão de vida pautada em coletividade e urbanidade.
Palavras-chave: Miguel Torga. Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Isolamento.
Modernidade.
EM CADA CANTO UM DESENCANTO: PEREYR AO AVESSO E O
ENIGMA NA PESSOA DE ÁLVARO DE CAMPOS
Erick Naldimar dos Santos
Juliana Rodrigues Salles
Isaura dos Santos Souza
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
Os caminhos que precisam ser percorridos pelos poetas deverão ser
aqueles que o estimulam, provocam, e os impulsionam a estarem atentos aos
ruídos avassaladores dos novos tempos, e ao vertiginoso processo fragmentário
ocasionado pela modernidade. Neste cenário em que se frutifica a ambiguidade, o
dissenso, a evasão da realidade cotidiana é que construiremos um entrecruzamento entre a poesia de Roberval Pereyr e
Fernando Pessoa, especificamente, com seu heterônimo Álvaro de Campos.
Pretende-se revelar imagens poéticas que retratam um eu-lírico
envolto nas suas inquietações, angústias e profunda instabilidade psicológica
frente ao caos da modernidade. Tanto Pereyr quanto Álvaro se configuram como
poetas irreconciliáveis com seu tempo e suas vozes se encontram quando
denunciam a realidade, vivenciam as tensões e rabiscam através de seus versos
sua percepção lírico psicológica que incita os leitores a profundas reflexões.
A poesia do heterônimo Álvaro de Campos bem como a de Roberval Pereyr cultivam
o próprio anseio de partir, de firmar seu deslocamento e celebra em seus poemas
um estilo torrencial, plural, delirante, expressando o seu desencanto com a
contemporaneidade. A trajetória como poetas decadentistas exprimem o
tédio, o cansaço, a desilusão, o pessimismo e a necessidade de novos olhares
para fugir da rotina. São estes ecos que serão analisados nas poesias de Álvaro
de Campos, tais como, “Ode triunfal” (1914), “Tabacaria” (1928), “Passagem
das horas” (1916), “Apontamento” (1929) e “Poema Em Linha Reta” (1972); e nos
poemas do livro Amálgama (2004) de Roberval Pereyr. O
certo é que o poeta de Antônio Cardoso/BA e o universal poeta português são
estes artesãos das palavras que expressam em sua poética uma contínua
inquietude e exploram as regiões mais extremas da sensibilidade, das tensões e
do inconsciente. Nestas veredas que refletem a fragmentação do
sujeito deslocado, que proporciona segurança em terrenos inseguros podemos
localizar estes poetas como um incompreendido, angustiado e descrente em
relação a tudo que provoca esta tensão e a esta áurea nostálgica.
Palavras-Chave: Fragmentação. Entrecruzamento. Modernidade. Inquietação. Tensões.
CLAROS ENIGMAS: O MISTÉRIO
DAS COUSAS EM PESSOA E DRUMMOND
Alana de O. Freitas El Fahl
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
Carlos Drummond de Andrade em seu livro Farewell (1987)
constrói alguns poemas em homenagem às obras de arte e autores de sua
predileção. Dentre os poetas eleitos, destaca-se Fernando Pessoa, tema do poema As
identidades do poeta. Em nove estrofes, o autor mineiro busca compreender
quem era o poeta português, através de algumas perguntas sobre as variadas
faces do escritor, revelando sua admiração pelo mestre luso. Há muitos pontos
de convergência entre esses dois escritores seminais da Língua Portuguesa.
Dentre eles podemos destacar aspectos formais, como o uso de variadas formas
poéticas, quanto aspectos temáticos, como o diálogo profícuo com a tradição e
com a História pátria e a marca da metalinguagem, dentre outros. Além desses
temas, temos em ambos uma procura pela compreensão do mundo que lhes cerca. É
objetivo do presente artigo analisar a presença da reflexão sobre “a verdade”
ou “o mistério das cousas”, expressões constantes nas suas poéticas, e a
aceitação dessa impossibilidade em alguns textos em estudo. Pessoa e Drummond
trouxeram para o centro de suas obras a tentativa de apreensão do conhecimento,
todavia, como autores modernos que o são só encontraram mais perguntas.
Palavras-chave: Fernando Pessoa. Carlos Drummond de Andrade. Modernidade.
Conhecimento.
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